quinta-feira, 4 de outubro de 2018


AINDA DÁ TEMPO!
            Este texto não é um artigo científico e, portanto, não segue as regras pertinentes.
            Exerço, como todo mundo, o direito de externar minha opinião. Dirijo-me aos familiares e amigos indecisos quanto às eleições presidenciais de 2018, os que ainda podem mudar sua intenção de voto e os que iriam votar em branco ou nulo ou nem compareceriam. Em vez de mantras ou palavras de ordem, preferi uma declaração de voto e um convite à reflexão, se tiver a pachorra de ler até o fim. Que amizades e afeições não se abalem!
            O texto é assumidamente panfletário e parte das seguintes decisões e premissas: 1) sou moderado e para mim o mais preparado é Alckmin; 2) não creio que alguém seja eleito no primeiro turno; 3) voto em qualquer um contra Haddad no segundo turno; 4) o Brasil precisa de reformas urgentes, sem as quais chafurdará no cenário mundial; 5) a polarização atingida nesta eleição é prejudicial à governabilidade; 6) é preciso um governo equilibrado, de transição, para evitar um dos extremos: a certeza do que pode acontecer, com a volta do PT; ou a incerteza, com um eventual governo do tipo salvacionista.
            Quem deveria nos governar? Segundo a proposição de Aristóteles seriam os aristocratas, significando ‘os melhores’ e não com a carga semântica atual, ‘os nobres’. Até os livros e filmes de ficção científica mostram um futuro utópico, com os moralmente superiores governando. Mas como identificá-los? Enquanto isso não é possível precisamos nos virar com o que temos, que nem escoteiros no mato.
          Os representantes atuam segundo a média dos interesses dos eleitores, pois não há como representar cada um fielmente, senão teríamos que ter um representante por eleitor. Para agregar os interesses semelhantes foram criados os partidos políticos. Daí porque é importante haver partidos fortes, pois o representante, seguindo a orientação do partido estará atendendo aos interesses médios de seus eleitores.
            Não há partidos fortes no Brasil, o que requer uma reforma política. Não há um partido totalmente coerente, da direita à esquerda. Mas dos que têm peso, opto pelo PSDB. Fora disso é apostar em aventuras como o PRN de Collor! Por que o PSDB? Penso que o PT foi o partido que mais prejudicou o País (não precisa explicar); PSDB, o que mais beneficiou, citando apenas o controle da inflação, a lei de responsabilidade fiscal e a pequena reforma da previdência, sem a qual o caos seria ainda maior hoje. Para mim é o segundo partido cujos parlamentares votam com mais responsabilidade. O primeiro é o PPS. O PSol é o mais fiel.
            Considero Alckmin o mais bem preparado, apesar de sua coligação, cujos partidos, porém, eram cobiçados por todos os outros candidatos. O mesmo Centrão da velha política, que o apoia, é este cujos raposões estão abandonando seu barco e entrando no de Bolsonaro. Quanto às acusações, todos as têm, mas são todos tecnicamente fichas-limpas, senão estariam fora da disputa. Alckmin tem experiência em governar o Estado mais rico e com a menor taxa de homicídios do País. É o único que defende consistentemente as reformas: principalmente a política (a mãe das reformas), além da previdenciária e da tributária, para obter o ajuste fiscal.
            A poucos dias do pleito há uma polarização entre Haddad, candidato de esquerda (PT) de última hora, visto que o natural era Lula; e Bolsonaro, candidato de direita, dos descontentes e opositores radicais ao PT, por um partido nanico, o PSL.
         Dizem que o PT criou o caldo de cultura para que vicejasse o fenômeno Bolsonaro, o que é compreensível, diante do descalabro em que o PT deixou o País. Claro que Bolsonaro tem um eleitorado cativo: militares, policiais, guardas, vigilantes, armamentistas. O atentado que sofreu alavancou sua candidatura, fundada no ‘mito’ do ‘salvador da Pátria’, ou seja, um messias (tem até no nome!). É um líder carismático, segundo a classificação de Weber, cuja ascensão se fundamenta na prática marxista do 'culto à personalidade', tão deplorada pela direita.
           Muito dessa onda, porém, é voto de protesto. E o voto de protesto é pueril. Assim como a abstenção e o voto nulo ou branco. Porque você deixa outro decidir por você. Votei no Lula em 1998, por protesto e ele não foi eleito na ocasião. Fui induzido por aquele discurso de ética e moralidade, logo após notícias de que FHC teria 'comprado' sua reeleição. Esse era o contexto, ou seja, votei ‘contra a corrupção’ e mais tarde, com Lula e Dilma no poder, deu no que deu. Eu era pueril? Acho que não, mas meu voto foi (#votodeprotestonuncamais).
            Certo é que honestidade e patriotismo são necessários, mas não suficientes para alguém que queira comandar os destinos de uma nação. O voto de protesto isenta o candidato de apresentar propostas, participar dos debates, independe de tempo na TV e verba para campanha, figurino ajustado. O efeito manada também é pueril, assim como ‘não desperdiçar o voto’, como se fosse um campeonato de futebol ou um êxodo de lêmingues (vide Google). Mas como convencer a manada de que política não se faz com o fígado, mas com o cérebro?
            Não creio, portanto, que as ideias de Bolsonaro sejam as melhores. Liberar armas (cujo acesso continuará proibitivo aos pobres) ou dar ‘carta branca’ à polícia não vai trazer mais segurança. Eventual reforma previdenciária do seu liberal economista Paulo Guedes será mais dura que a do Alckmin. Evidentemente suas bravatas não vão ser colocadas em prática, pois parecidas com as do Lula; não é esse o problema. Ele é inofensivo quanto ao que fala, mas é inexperiente e não teria apoio parlamentar para governar, muito menos para empreender as reformas necessárias.
            Não sou contra Bolsonaro, só acho que neste momento o melhor (ou menos pior = voto tático e não de protesto) é um perfil experiente, conciliador e que tenha respaldo no Congresso. Por mais boa vontade que ele tenha, a eventual eleição de Bolsonaro não vai restituir a confiança instantânea ao mercado e ao consumidor, o que implica instabilidade político-social, fuga de capitais, volta da inflação, aumento dos juros, isto é, recessão. O mesmo que ocorreu quando Lula foi eleito e logo refreou com as políticas sociais que Bolsonaro não aprova.
            O fato de Alckmin ‘bater’ em Bolsonaro (e dar a cara a tapa, descendo do muro) se deve a que Bolsonaro é seu adversário direto, o mais bem colocado nas intenções de voto. O mesmo não faz Ciro ao poupar Lula, pensando em cabular os votos dos lulistas; e Haddad ao não agredir Bolsonaro, pensando nos eleitores de centro. Isto é, Bolsonaro está numa situação confortável, de não ter que se expor. Mas, curiosamente, os eleitores de Bolsonaro utilizam os mesmos artifícios que os petistas, no sentido de criação e difusão de fake news e de retaliações instantâneas e em massa nas redes sociais.
            Ciro também tem experiência, mas é um populista de esquerda, não obstante seu discurso aparentemente liberal. Seu grande feito como governador, na área da educação, dificilmente poderia ser replicado a nível nacional. A União só induz políticas públicas nos Estados e Municípios com recursos financeiros de monta. E a União não tem condições de assumir a educação do ensino fundamental e médio. Ciro diz que confia cegamente no presidente de seu partido (PDT), o que traz à lembrança Leonel Brizola, responsável, quando governador do Rio de Janeiro, pelo início da escalada que levou o País a ser dominado por facções criminosas. Quanto a tirar o nome do SPC, é uma promessa tão irresponsável quanto impraticável.
            A saída pela terceira via, portanto, em atendimento à carta de FHC, pressupõe todos os candidatos de centro abrirem mão de seus votos em favor de algum deles. Faltaria ‘combinar com (todos) os russos’. A hipótese mais plausível é que esse alguém fosse o primeiro colocado nas pesquisas, que nem sempre se confirmam, contudo. Dessa forma, num cenário de eleitorado esclarecido o centro seria o fiel, entre a incerteza (Bolsonaro) e a ‘certeza’ (Haddad). 
            Considero improvável a hipótese de a maioria dos eleitores de centro migrarem para um dos demais candidatos (Ciro, Marina, Dias, Meirelles, Alckmin ou Amoedo), para que haja um moderado no segundo turno. Mas ainda dá tempo de carregar no Alckmin! Fiz concessão a Ciro, porque é conceitualmente de esquerda e ao Amoedo, que é o mais à direita de todos. Dias, Meirelles e Amoedo (talvez Marina também), confiam muito em seus próprios atributos. São otimistas, mas suas propostas são mais apropriadas para um país escandinavo, talvez exequíveis dentro de duas ou três eleições se os próximos governos forem de centro. Os dois últimos enriqueceram como banqueiros, sempre jogaram com a lógica do lucro (totalmente pró-mercado), são confessadamente liberais (previdência dura de novo), sei não! Sobram Ciro e Alckmin, o primeiro pelas pesquisas de intenção de voto, o segundo, pela experiência, e ambos por se filiarem a partidos antigos.
            Pois é, cá estamos na fase (como sempre), de optar pelo menos trágico. O centro está disperso e não parece disposto a carregar em um de seus candidatos, que iria para o segundo turno. Como há o risco, para a esquerda, de o Bolsonaro levar no primeiro turno, ela precisaria ir de voto tático, isto é, no centro, eis o dilema. Isso porque se forem Bolsonaro e um nome de esquerda para o segundo turno, dá Bolsonaro...
            Estou apenas prognosticando (com boa chance de estar equivocado) que num eventual segundo turno entre Ciro e Bolsonaro, o centro migraria para Bolsonaro e não para Ciro, ideologicamente de esquerda; e que entre Alckmin e Bolsonaro, o centro (boa parte de alkmistas votando no Bolsonaro no primeiro turno, por medo do PT ou pelo voto envergonhado) retornaria para Alckmin. Ou seja, se escolherem Ciro como terceira via para desbancar Haddad, dá Ciro; se for para enfrentar Bolsonaro, dá Bolsonaro! Se escolherem Alckmin, dá Alckmin contra Haddad ou Bolsonaro!
            Poderia, então, haver um fenômeno de migração de votos na última hora. Vejamos: direita vota em Bolsonaro; centro em Marina (?), Dias, Meireles, Alckmin e Amoedo; esquerda entre Haddad, Ciro e quejandos (Marina poderia estar aqui, dado seu histórico e perfil indefinido).
            No cenário atual de disputa entre Bolsonaro e Haddad, o voto estratégico no Alckmin tiraria votos do primeiro; se dado ao Ciro, do segundo. A esquerda, sem Haddad, votaria no Ciro (que é liberal de fachada, mas populista), por identificação; ou no Alckmin, por conveniência. O centro ficaria com Bolsonaro, contra Ciro; mas com Alckmin, contra Bolsonaro. Portanto, se você não quer que Haddad ou Ciro vença Bolsonaro no segundo turno, vote Alckmin! Mas se não quer que Bolsonaro vença Haddad ou Ciro, vote Alckmin! Simples assim!
            Então, se a esquerda menos radical for inteligente, o eleito vai ser de centro. Se insistir no Haddad, ou migrar para o Ciro ou Marina, dá Bolsonaro, no primeiro ou no segundo turno.
            É a aplicação, na prática, do teorema do eleitor mediano! A maioria tende ao centro quando há extremistas em disputa. A opção mais adequada é Alckmin ou jogamos fora a água da bacia junto com o bebê.
            Enfim, se o eleito for Bolsonaro, e ainda mais no primeiro turno, torço para que dê certo, apesar de minha reserva. Se for Haddad, estejamos preparados para uma quadra nebulosa! Se meu prognóstico se confirmar, ótimo! Se meu ceticismo prevalecer, paciência, mas terei alertado!