AINDA DÁ
TEMPO!
Este texto não é um artigo científico
e, portanto, não segue as regras pertinentes.
Exerço, como todo mundo, o direito de
externar minha opinião. Dirijo-me aos familiares e amigos indecisos quanto às
eleições presidenciais de 2018, os que ainda podem mudar sua intenção de voto e
os que iriam votar em branco ou nulo ou nem compareceriam. Em vez de mantras ou
palavras de ordem, preferi uma declaração de voto e um convite à reflexão, se
tiver a pachorra de ler até o fim. Que amizades e afeições não se abalem!
O
texto é assumidamente panfletário e parte das seguintes decisões e premissas:
1) sou moderado e para mim o mais preparado é Alckmin; 2) não creio que alguém
seja eleito no primeiro turno; 3) voto em qualquer um contra Haddad no segundo
turno; 4) o Brasil precisa de reformas urgentes, sem as quais chafurdará no cenário mundial; 5) a polarização atingida nesta eleição é prejudicial
à governabilidade; 6) é preciso um governo equilibrado, de transição, para
evitar um dos extremos: a certeza do que pode acontecer, com a volta do PT; ou
a incerteza, com um eventual governo do tipo salvacionista.
Quem deveria nos governar? Segundo a
proposição de Aristóteles seriam os aristocratas, significando ‘os melhores’ e não com
a carga semântica atual, ‘os nobres’. Até os livros e filmes de ficção
científica mostram um futuro utópico, com os moralmente superiores governando.
Mas como identificá-los? Enquanto isso não é possível precisamos nos virar com
o que temos, que nem escoteiros no mato.
Os representantes atuam segundo a
média dos interesses dos eleitores, pois não há como representar cada um
fielmente, senão teríamos que ter um representante por eleitor. Para agregar os
interesses semelhantes foram criados os partidos políticos. Daí porque é
importante haver partidos fortes, pois o representante, seguindo a orientação
do partido estará atendendo aos interesses médios de seus eleitores.
Não há partidos fortes no Brasil, o
que requer uma reforma política. Não há um partido totalmente coerente, da
direita à esquerda. Mas dos que têm peso, opto pelo PSDB. Fora disso é apostar
em aventuras como o PRN de Collor! Por que o PSDB? Penso que o PT foi o partido
que mais prejudicou o País (não precisa explicar); PSDB, o que mais beneficiou,
citando apenas o controle da inflação, a lei de responsabilidade fiscal e a
pequena reforma da previdência, sem a qual o caos seria ainda maior hoje. Para
mim é o segundo partido cujos parlamentares votam com mais responsabilidade. O
primeiro é o PPS. O PSol é o mais fiel.
Considero
Alckmin o mais bem preparado, apesar de sua coligação, cujos partidos, porém,
eram cobiçados por todos os outros candidatos. O mesmo Centrão da velha
política, que o apoia, é este cujos raposões estão abandonando seu barco e
entrando no de Bolsonaro. Quanto às acusações, todos as têm, mas são todos
tecnicamente fichas-limpas, senão estariam fora da disputa. Alckmin tem
experiência em governar o Estado mais rico e com a menor taxa de homicídios do
País. É o único que defende consistentemente as reformas: principalmente a
política (a mãe das reformas), além da previdenciária e da tributária, para
obter o ajuste fiscal.
A poucos dias do pleito há uma
polarização entre Haddad, candidato de esquerda (PT) de última hora, visto que
o natural era Lula; e Bolsonaro, candidato de direita, dos descontentes e
opositores radicais ao PT, por um partido nanico, o PSL.
Dizem que o PT criou o caldo de
cultura para que vicejasse o fenômeno Bolsonaro, o que é compreensível, diante
do descalabro em que o PT deixou o País. Claro que Bolsonaro tem um eleitorado
cativo: militares, policiais, guardas, vigilantes, armamentistas. O atentado
que sofreu alavancou sua candidatura, fundada no ‘mito’ do ‘salvador da Pátria’,
ou seja, um messias (tem até no nome!). É um líder carismático, segundo a classificação de Weber,
cuja ascensão se fundamenta na prática marxista do 'culto à personalidade', tão deplorada
pela direita.
Muito dessa onda, porém, é voto de
protesto. E o voto de protesto é pueril. Assim como a abstenção e o voto nulo
ou branco. Porque você deixa outro decidir por você. Votei no Lula em 1998, por
protesto e ele não foi eleito na ocasião. Fui induzido por aquele discurso de
ética e moralidade, logo após notícias de que FHC teria 'comprado' sua
reeleição. Esse era o contexto, ou seja, votei ‘contra a corrupção’ e mais
tarde, com Lula e Dilma no poder, deu no que deu. Eu era pueril? Acho que não,
mas meu voto foi (#votodeprotestonuncamais).
Certo é que honestidade e patriotismo
são necessários, mas não suficientes para alguém que queira comandar os
destinos de uma nação. O voto de protesto isenta o candidato de apresentar
propostas, participar dos debates, independe de tempo na TV e verba para
campanha, figurino ajustado. O efeito manada também é pueril, assim como ‘não
desperdiçar o voto’, como se fosse um campeonato de futebol ou um êxodo de
lêmingues (vide Google). Mas como convencer a manada de que política não se faz
com o fígado, mas com o cérebro?
Não
creio, portanto, que as ideias de Bolsonaro sejam as melhores. Liberar armas (cujo
acesso continuará proibitivo aos pobres) ou dar ‘carta branca’ à polícia não
vai trazer mais segurança. Eventual reforma previdenciária do seu liberal
economista Paulo Guedes será mais dura que a do Alckmin. Evidentemente suas
bravatas não vão ser colocadas em prática, pois parecidas com as do Lula; não é
esse o problema. Ele é inofensivo quanto ao que fala, mas é inexperiente e não
teria apoio parlamentar para governar, muito menos para empreender as reformas
necessárias.
Não sou contra Bolsonaro, só acho que
neste momento o melhor (ou menos pior = voto tático e não de protesto) é um
perfil experiente, conciliador e que tenha respaldo no Congresso. Por mais boa
vontade que ele tenha, a eventual eleição de Bolsonaro não vai restituir a
confiança instantânea ao mercado e ao consumidor, o que implica instabilidade
político-social, fuga de capitais, volta da inflação, aumento dos juros, isto
é, recessão. O mesmo que ocorreu quando Lula foi eleito e logo refreou com as
políticas sociais que Bolsonaro não aprova.
O
fato de Alckmin ‘bater’ em Bolsonaro (e dar a cara a tapa, descendo do muro) se
deve a que Bolsonaro é seu adversário direto, o mais bem colocado nas intenções
de voto. O mesmo não faz Ciro ao poupar Lula, pensando em cabular os votos dos
lulistas; e Haddad ao não agredir Bolsonaro, pensando nos eleitores de centro. Isto
é, Bolsonaro está numa situação confortável, de não ter que se expor. Mas, curiosamente,
os eleitores de Bolsonaro utilizam os mesmos artifícios que os petistas, no
sentido de criação e difusão de fake news
e de retaliações instantâneas e em massa nas redes sociais.
Ciro
também tem experiência, mas é um populista de esquerda, não obstante seu
discurso aparentemente liberal. Seu grande feito como governador, na área da
educação, dificilmente poderia ser replicado a nível nacional. A União só induz
políticas públicas nos Estados e Municípios com recursos financeiros de monta.
E a União não tem condições de assumir a educação do ensino fundamental e
médio. Ciro diz que confia cegamente no presidente de seu partido (PDT), o que
traz à lembrança Leonel Brizola, responsável, quando governador do Rio de
Janeiro, pelo início da escalada que levou o País a ser dominado por facções
criminosas. Quanto a tirar o nome do SPC, é uma promessa tão irresponsável
quanto impraticável.
A
saída pela terceira via, portanto, em atendimento à carta de FHC, pressupõe
todos os candidatos de centro abrirem mão de seus votos em favor de algum deles.
Faltaria ‘combinar com (todos) os russos’. A hipótese mais plausível é que esse
alguém fosse o primeiro colocado nas pesquisas, que nem sempre se confirmam,
contudo. Dessa forma, num cenário de eleitorado esclarecido o centro seria o
fiel, entre a incerteza (Bolsonaro) e a ‘certeza’ (Haddad).
Considero improvável a hipótese de a
maioria dos eleitores de centro migrarem para um dos demais candidatos (Ciro,
Marina, Dias, Meirelles, Alckmin ou Amoedo), para que haja um moderado no
segundo turno. Mas ainda dá tempo de carregar no Alckmin! Fiz concessão a Ciro,
porque é conceitualmente de esquerda e ao Amoedo, que é o mais à direita de
todos. Dias, Meirelles e Amoedo (talvez Marina também), confiam muito em seus
próprios atributos. São otimistas, mas suas propostas são mais apropriadas para um
país escandinavo, talvez exequíveis dentro de duas ou três eleições se os
próximos governos forem de centro. Os dois últimos enriqueceram como
banqueiros, sempre jogaram com a lógica do lucro (totalmente pró-mercado), são
confessadamente liberais (previdência dura de novo), sei não! Sobram Ciro e
Alckmin, o primeiro pelas pesquisas de intenção de voto, o segundo, pela
experiência, e ambos por se filiarem a partidos antigos.
Pois é, cá estamos na fase (como
sempre), de optar pelo menos trágico. O centro está disperso e não parece disposto
a carregar em um de seus candidatos, que iria para o segundo turno. Como há o
risco, para a esquerda, de o Bolsonaro levar no primeiro turno, ela precisaria
ir de voto tático, isto é, no centro, eis o dilema. Isso porque se forem
Bolsonaro e um nome de esquerda para o segundo turno, dá Bolsonaro...
Estou apenas prognosticando (com boa
chance de estar equivocado) que num eventual segundo turno entre Ciro e
Bolsonaro, o centro migraria para Bolsonaro e não para Ciro, ideologicamente de
esquerda; e que entre Alckmin e Bolsonaro, o centro (boa parte de alkmistas votando
no Bolsonaro no primeiro turno, por medo do PT ou pelo voto envergonhado) retornaria
para Alckmin. Ou seja, se escolherem Ciro como terceira via para desbancar
Haddad, dá Ciro; se for para enfrentar Bolsonaro, dá Bolsonaro! Se escolherem
Alckmin, dá Alckmin contra Haddad ou Bolsonaro!
Poderia,
então, haver um fenômeno de migração de votos na última hora. Vejamos: direita
vota em Bolsonaro; centro em Marina (?), Dias, Meireles, Alckmin e Amoedo;
esquerda entre Haddad, Ciro e quejandos (Marina poderia estar aqui, dado seu histórico
e perfil indefinido).
No
cenário atual de disputa entre Bolsonaro e Haddad, o voto estratégico no Alckmin
tiraria votos do primeiro; se dado ao Ciro, do segundo. A esquerda, sem Haddad,
votaria no Ciro (que é liberal de fachada, mas populista), por identificação;
ou no Alckmin, por conveniência. O centro ficaria com Bolsonaro, contra Ciro;
mas com Alckmin, contra Bolsonaro. Portanto, se você não quer que Haddad ou
Ciro vença Bolsonaro no segundo turno, vote Alckmin! Mas se não quer que
Bolsonaro vença Haddad ou Ciro, vote Alckmin! Simples assim!
Então,
se a esquerda menos radical for inteligente, o eleito vai ser de centro. Se
insistir no Haddad, ou migrar para o Ciro ou Marina, dá Bolsonaro, no primeiro
ou no segundo turno.
É a
aplicação, na prática, do teorema do eleitor mediano! A maioria tende ao centro
quando há extremistas em disputa. A opção mais adequada é Alckmin ou jogamos
fora a água da bacia junto com o bebê.
Enfim, se o eleito for Bolsonaro, e
ainda mais no primeiro turno, torço para que dê certo, apesar de minha reserva.
Se for Haddad, estejamos preparados para uma quadra nebulosa! Se meu
prognóstico se confirmar, ótimo! Se meu ceticismo prevalecer, paciência, mas terei
alertado!