POLÍCIA PROTETORA
Como trabalho na área de segurança pública, por obrigação já li quase toda
a coleção editada pela Edusp, “Polícia e sociedade”.
Um dos volumes é “Polícias e Sociedades na Europa”, escrito
por Jean Claude Monet, no qual o autor discorre sobre os primórdios da polícia
naquele continente, o que praticamente coincide com a origem da polícia.
Inicialmente, especialmente na Inglaterra, as polícias de
caráter comunitário eram tidas como muito eficientes (ao contrário das
brasileiras, na época do Império, o que levou à centralização). Hoje em dia,
propugna-se o retorno ao modelo de polícias locais, da comunidade, o que, no
nosso caso, vai ao encontro de uma visão municipalista crescente.
A ideia é de que, tudo acontecendo no município, aí é que
deve tudo ser decidido, ficando para os Estados e União apenas questões de
natureza macro. A própria criação das guardas municipais e a mobilização para
que integrem os órgãos de segurança pública, com poder de polícia incluído, é
oriundo desse pensamento, atribuído ao ex-Governador de São Paulo, Franco
Montoro.
Penso que a criação das polícias municipais, a exemplo das
existentes nos Estados Unidos, é uma questão de tempo. A meu ver, deve haver
limitações à criação desenfreada desses organismos, sob pena de se
institucionalizar os grupos de guarda pretoriana dos prefeitos do interior, que
poderiam contratar jagunços e pistoleiros para serem seus guarda-costas, sem
nenhum compromisso com o interesse público.
Mas é possível nos grandes centros, onde o controle externo
é mais ativo, com a fiscalização da imprensa, de uma opinião pública
esclarecida, do Ministério Público, da OAB, da igreja, enfim, de toda a
sociedade.
Há muito tempo o Estado selecionava para as polícias os
homens dotados de força muscular, porque polícia era visto como uso da força,
simplesmente. Houve época em nosso país em que os soldados do Exército,
excluídos a bem da disciplina, eram os homens ideais para serem integrados às
polícias militares. A lógica era a de que uma pessoa indisciplinada para o
Exército era bem talhada para a atividade policial truculenta.
Ainda hoje muita gente prefere os “canas duras” e
“sargentões”, como paradigmas do policial eficiente.
A própria arte difunde essa ideia (vide Mercenários). No filme Guerra
ao terror, há uma cena em que o comandante determina, implicitamente, que
se deixe um prisioneiro ferido morrer (só se ouve o tiro, depois), enquanto um
soldado se preocupa em providenciar atendimento médico. É um contexto de guerra
no Iraque, mas não é incomum essa conduta no cotidiano das polícias
brasileiras, infelizmente, que vai contra o conceito de polícia protetora.
Aliás, penso que em vez de Unidade de Polícia Pacificadora, que
remete aos conceitos de guerra e paz, eminentemente de cunho bélico, o nome
deveria ser Unidade de Polícia Protetora, mais condizente com a noção de
polícia de proximidade ou comunitária.
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