quarta-feira, 2 de setembro de 2015

RESENHA: O GIGOLÔ DAS PALAVRAS

          O texto de Luís Fernando Veríssimo, O gigolô das palavras, extraído da 8ª edição da L&PM (Porto Alegre, 1982), é um aperitivo do humor refinado do escritor gaúcho.
          Veríssimo, nascido em 1936 em Porto Alegre, é filho do também escritor e diplomata Érico Veríssimo. Tem dezenas de obras publicadas, dentre as quais a mais conhecida é a da personagem “analista de Bagé”. Tendo vivido nos Estados Unidos, possui uma intimidade com a língua portuguesa que lhe permite atuar em várias frentes da ficção com a verve humorística que lhe caracteriza. Desta forma, escreveu para a televisão (A comédia da vida privada), quadrinhos (As cobras), uma série sobre o detetive Ed Mort, além de textos de culinária (a série Traçando...), dentre outros. Saxofonista nas horas vagas, mantém regularmente colunas em vários jornais do país.
          No texto, em que conta como atendeu a estudantes que queriam sua opinião sobre a importância da gramática, Veríssimo faz um paralelo com a vida de um gigolô, considerando suas palavras como prostitutas. Defendendo um conhecimento básico de gramática, que o autor chama de esqueleto da língua, metaforicamente diz maltratá-las, viver abusando delas, pois, se um escritor as respeitasse, com a deferência de um relacionamento afetivo, se tornaria refém das regras gramaticais.
          Em sua obra Veríssimo retrata o cotidiano e, mais que isso, o linguajar popular, sem descurar de dar pinceladas do rico regionalismo sul-riograndense. Mas o que mais lhe é típico é o fino humor que transparece em toda a produção. No texto em análise, Veríssimo traça um paralelo entre o modo violento, negligente e ao mesmo tempo dominador com que o cafetão trata seu “plantel”, isto é, as prostitutas, com a forma com que ele próprio procura dominar as palavras, deixando as regras gramaticais complexas em segundo plano.

          Ao que tudo indica, é seu trunfo para não ser incomodado pelos puristas. Para utilizar uma metáfora futebolística, tão ao gosto do brasileiro, é como se fosse o craque, que não trata a bola por “Excelência” e, portanto, faz a alegria da torcida. Para a torcida de leitores Veríssimo bate um bolão!

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