PREDISPOSIÇÃO AO CRIME
Creio que não haja alguém predestinado, biologicamente, para
o crime. Mas especula-se que hajam aqueles geneticamente propensos a
comportamentos agressivos, o que poderia dar origem a crimes. Essa tese
encontra respaldo nas predisposições genéticas para certas doenças. Como
sabemos que há doenças psíquicas, que afetam o comportamento, não seria
surpresa os cientistas descobrirem algum gene da agressividade.
Fazendo uma analogia com o senso comum de que muitos pobres
tendem ao crime, podemos traçar um paralelo. Segundo Luiz Tadeu Viapiana, em Economia do crime, citando vários
autores estrangeiros, especialmente Gary Becker, a pobreza não leva ao crime,
mas dentre o universo de criminosos há um contingente grande de pobres, talvez
levado a esse modo de vida extremo dadas as parcas condições em que vivem e à
falta de oportunidade de crescimento na atividade legal. O autor explica que
não há uma tendência do pobre em ser criminoso, mas a predisposição que o meio
ambiente lhe proporciona favorece seu ingresso no mundo do crime.
O mesmo raciocínio poderia ser aplicado aos negros e pardos,
maioria absoluta dos processados, condenados e presos no Brasil. Não existe em
relação a tais pessoas tendência ao crime, mas como as leis penais foram
construídas para conter os “grupos perigosos”, isso implica sua aplicação à
parcela da população mais pobre que, infelizmente, em sua maioria é composta
pelos negros e pardos. E isso vem desde a libertação dos escravos, quando os
pretos libertos não tinham ocupação, levando alguns a cometer pequenos delitos
para sobreviver, passando daí a integrar as “classes perigosas”, objeto de repressão continuada desde então.
Donde alguns cientistas sociais defenderem, no âmbito das ações afirmativas, a cota para
pobres e não para negros, que abrangeria, por essa lógica, a maioria dos negros
e evitaria beneficiar negros ricos e deixar de beneficiar brancos pobres. Mas
este é outro assunto.
Voltando ao tema, as religiões espiritualistas que admitem a
reencarnação (ou metempsicose e outras formas de crença na revivência da alma
no mundo físico) defendem que muitos renascem com a predisposição para
situações de conflito, visando ao resgate de dívidas morais passadas. Entretanto,
segundo algumas dessas religiões, existe um determinismo, ou seja, a pessoa
estaria fadada a passar por determinadas experiências (matar ou ser morto por
alguém, por exemplo, o que é mais fácil de ocorrer em ambientes conflituosos), isto é, o
destino conformaria a vida da pessoa. Outras acreditam que, apesar da
predisposição, existe certo livre arbítrio que levariam as pessoas a escolherem
seu caminho.
Tirante a questão religiosa, que é muito polêmica e carente
de evidências científicas, naturalmente, poderíamos admitir, em tese, que
alguém com uma carga genética agressiva pode vir a ser ou não agressivo,
dependendo das condições do meio e da formação do caráter do indivíduo.
Há uma frase, não sei se do poeta Mário Quintana, segundo a
qual não estamos livres apenas de duas coisas: da morte e de fazer escolhas. Então,
acredito que as escolhas são sempre possíveis, haja influência biológica ou do
meio.
Mas não concordo que as influências biológicas, se houver,
possam ser em relação a medidas ou características físicas do corpo, como defendia
Lombroso, mas de caráter genético. Assim, não é porque alguém é feio que tende
ao crime, pois sabemos que há muitos bonitões de extensa folha corrida por aí.
Coribante, faltou um "não" na frase do Quintana ou foi impressão minha?
ResponderExcluirConcordo com tudo o que disse. O blog está ótimo!
Abraço e continue produzindo =D
Correto, Sheila! Falha de revisão corrigida. Obrigado e continue prestigiando!
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