quarta-feira, 23 de setembro de 2015

A VISÃO DO POLICIAL

A vivência do policial é importante na hora de fazer escolhas, pois cada escolha traz consequências. Há as consequências previsíveis e as inimagináveis. Mas as consequências, oriundas das escolhas, comporão a imagem que a sociedade faz do policial e da instituição que representa. Há uma série de filmetes no canal Youtube, intitulada “Ameriquest Mortgage Company Hilarious Series of Commercials”, disponível no link  <https://www.youtube.com/watch?v=6nhbjUS_oCg>.

Os filmetes demonstram ser preciso fazer escolhas adequadas (nem sempre certas ou erradas, mas adequadas), as quais afetarão nossa imagem como pessoas, profissionais e integrantes de uma organização, que será igualmente afetada pela percepção dos indivíduos acerca da adequação de nossas escolhas para a imagem de quem representamos. Os filmetes são propagandas da Ameriquest Mortgage Company, os quais apresentam uma situação inusitada de impacto ao final, tal qual a que encontraríamos numa cena de provável crime, por exemplo. Rodado todo o vídeo, demonstra-se que na eventualidade de se presenciar apenas a cena final, a situação tida como errada, ilícita ou suspeita, não passa de um desdobramento de um evento cotidiano comum, cercado de circunstâncias que levaram àquele “pré-conceito” inicial.

A moral da história é que não devemos nos impressionar com a primeira cena, em especial o policial, o qual tem o dever de relatar o fato real e não uma impressão fragmentada dele. Esse cuidado evita muitos mal-entendidos que podem gerar constrangimentos e prejuízos consideráveis para pessoas inocentes. Como exemplo prático, há alguns anos a direção de uma escola infantil paulista, Escola Base, foi acusada de participação em pedofilia, apurando-se, depois, que as acusações eram infundadas. O delegado foi induzido pelo sensacionalismo da imprensa.

É comum em entrevistas com pessoas do povo o fato de externarem preconceitos acerca da conduta policial, especialmente quando se discute a diferença de abordagem de idosos, mulheres, gestantes e homossexuais, assim como de adolescentes do sexo masculino e do feminino.
Independentemente das condições pessoais do abordado, o policial deve ter uma conduta uniforme? Nem sempre, pois na hipótese de uma gestante, um idoso e outros casos de pessoas com mobilidade reduzida, por exemplo, a abordagem deve ser diferente, em função do respeito que devemos ter para com as circunstâncias especiais que essas pessoas enfrentam. Naturalmente a diferença de abordagem não pode induzir uma abordagem mal feita. Apesar de a ataraxia ser um valor a ser cultuado pelo policial, a condição da pessoa deve ser levada em conta no momento da abordagem. Exemplo: uma gestante que resista nunca poderá ser dominada, algemada e conduzida da mesma forma que um homem adulto sóbrio e saudável.

O filme “A troca”, por exemplo,  estrelado por Angelina Jolie, aborda a ideia da responsabilidade ética pelos nossos atos, pois o filme demonstra a falta de preparo, a preguiça e o comprometimento político dos policiais envolvidos, os quais não medem esforços para impor sua versão dos fatos. Não é incomum no ambiente policial se eleger um suspeito que se adeque ao perfil do infrator, passando-se a buscar provas para incriminá-lo, em desatendimento à observação do princípio da busca da verdade real. 

Como é variável a capacidade de compreensão da comunicação, conforme a percepção do receptor, num grupo é necessário que haja uniformidade de conceitos, para que a comunicação seja bem compreendida. É comum a utilização de linguagem por códigos no meio policial, como o alfabeto fonético internacional, a linguagem Q e, nas ações táticas, os comandos por gestos. Assim, é essencial que a mensagem seja “clara, precisa e concisa”, na medida do possível, ainda que transmitida por códigos não unívocos. A exata compreensão das ordens e comandos permite que a ação policial seja correta. Exemplos de ações desastradas temos no caso do Ônibus 174 – de cuja história foi feito um filme homônimo – e do trágico Caso Eloá.

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

POLÍCIA PROTETORA



Como trabalho na área de segurança pública, por obrigação já li quase toda a coleção editada pela Edusp, “Polícia e sociedade”.
Um dos volumes é “Polícias e Sociedades na Europa”, escrito por Jean Claude Monet, no qual o autor discorre sobre os primórdios da polícia naquele continente, o que praticamente coincide com a origem da polícia.
Inicialmente, especialmente na Inglaterra, as polícias de caráter comunitário eram tidas como muito eficientes (ao contrário das brasileiras, na época do Império, o que levou à centralização). Hoje em dia, propugna-se o retorno ao modelo de polícias locais, da comunidade, o que, no nosso caso, vai ao encontro de uma visão municipalista crescente.
A ideia é de que, tudo acontecendo no município, aí é que deve tudo ser decidido, ficando para os Estados e União apenas questões de natureza macro. A própria criação das guardas municipais e a mobilização para que integrem os órgãos de segurança pública, com poder de polícia incluído, é oriundo desse pensamento, atribuído ao ex-Governador de São Paulo, Franco Montoro.
Penso que a criação das polícias municipais, a exemplo das existentes nos Estados Unidos, é uma questão de tempo. A meu ver, deve haver limitações à criação desenfreada desses organismos, sob pena de se institucionalizar os grupos de guarda pretoriana dos prefeitos do interior, que poderiam contratar jagunços e pistoleiros para serem seus guarda-costas, sem nenhum compromisso com o interesse público.
Mas é possível nos grandes centros, onde o controle externo é mais ativo, com a fiscalização da imprensa, de uma opinião pública esclarecida, do Ministério Público, da OAB, da igreja, enfim, de toda a sociedade.
Há muito tempo o Estado selecionava para as polícias os homens dotados de força muscular, porque polícia era visto como uso da força, simplesmente. Houve época em nosso país em que os soldados do Exército, excluídos a bem da disciplina, eram os homens ideais para serem integrados às polícias militares. A lógica era a de que uma pessoa indisciplinada para o Exército era bem talhada para a atividade policial truculenta.
Ainda hoje muita gente prefere os “canas duras” e “sargentões”, como paradigmas do policial eficiente.
A própria arte difunde essa ideia (vide Mercenários). No filme Guerra ao terror, há uma cena em que o comandante determina, implicitamente, que se deixe um prisioneiro ferido morrer (só se ouve o tiro, depois), enquanto um soldado se preocupa em providenciar atendimento médico. É um contexto de guerra no Iraque, mas não é incomum essa conduta no cotidiano das polícias brasileiras, infelizmente, que vai contra o conceito de polícia protetora.

Aliás, penso que em vez de Unidade de Polícia Pacificadora, que remete aos conceitos de guerra e paz, eminentemente de cunho bélico, o nome deveria ser Unidade de Polícia Protetora, mais condizente com a noção de polícia de proximidade ou comunitária.

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

LIDERANDO E MOTIVANDO


Discordo um pouco quando dizem que não existe dom para liderar e motivar. Acho que é tudo uma mescla, de influência genética (dom), do caráter transmitido pelos pais, da personalidade adquirida em contato com o meio e, concordo num ponto, das oportunidades aproveitadas (porque há as que passam).  
Não acredito que o líder seja nato, mas que algumas pessoas tenham um perfil para liderar, resultado do somatório acima sugerido. Mas creio que seja possível aprender a liderar. Chefiar, qualquer um pode; mas liderar, não. Mesmo a chefia, porém, pode ser boa ou ruim. Assim, muitas vezes ficamos sujeitos a um chefe que o é só por razão hierárquica, mas nada entende de chefiar uma equipe.
Chefiar é convencer alguém a seguir seu comando; liderar é convencer alguém a comungar de suas ideias. Para isso é preciso não só ter ideias, mas arrastar os liderados pelo exemplo. Pois, se a palavra convence, o exemplo arrasta.
Um bom chefe se impõe pela competência. Um líder, pelo carisma. Geralmente o bom chefe pode ser estranho, mas um bom líder quase sempre é oriundo do meio. Tanto um bom chefe quanto um bom líder enfrentam, porém, dificuldades oriundas da cultura organizacional.
Essa cultura será tão mais prevalecente para a desagregação quanto menos a empresa ou órgão investir nos seus recursos humanos. E vice-versa.
Talvez o estilo de liderança democrática possa se aplicar a todas as situações. A bidimensional (autocrática e democrática) é um tipo de liderança bastante flexível, ora tendendo para um ora para outro estilo. Desta forma, não pode ser aplicada a todas as situações, a não ser com a adaptação necessária a cada uma. Pode ser que uma liderança 'interativa' seja a ideal, aquela em que o líder se adaptaria à situação, sempre, interagindo com os liderados, como o meio ambiente, com a situação etc.
No tocante às lideranças autocráticas e liberal, simplesmente, cada uma está no extremo dos enfoques nos processos e nas pessoas, ou, noutra dimensão, no controle rígido ou na falta total de controle.
Então, vejo que a liderança democrática é a que mais se amolda à aspiração das pessoas, de serem tratadas com respeito e consideração. É claro que uma liderança essencialmente democrática, sem pitadas de autoritarismo ou liberalismo pode trazer algumas consequências indesejáveis ao líder. Isto é, a perda do controle quando deveria ter sido mais rígido e não foi, ou o inverso, o comprometimento da influência que exerce no grupo quando deveria ter sido mais liberal.
A própria característica da liderança democrática, de ouvir e estimular a participação dos liderados, dá uma noção de que esse estilo de liderança implica um líder mais transigente e, portanto, mais apto a decidir com acerto nas mais variadas situações.
"Quase todos os homens são capazes de suportar adversidades, mas se quiser pôr à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder". (Abraham Lincoln)
"O poder corrompe, o poder absoluto corrompe absolutamente”. (Lord Acton)

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

ADMINISTRAÇÃO E CONTINGÊNCIA

No tocante às teorias da administração creio que as abordagens sistêmica, contingencial e de gestão pela qualidade se complementam, trazendo enorme vantagem competitiva para a entidade que as utiliza.

Quanto à abordagem sistêmica, por se tratar de um sistema aberto, o envolvimento com o ambiente evita a tendência á entropia, favorecendo a homeostasia e criando condições para ações morfogenéticas. Tal abordagem potencializa medidas holísticas como a equifinalidade (a busca do resultado por vários caminhos), que acaba gerando o fenômeno da sinergia (o todo sendo maior que a soma das partes).

Toda empresa moderna precisa ter alguma preocupação com as contingências, donde várias elaborarem planos de contingência, nos quais se traçam cenários e providências as serem adotadas nas hipóteses de modificações bruscas ou substanciais em termos de ambiente e tecnologia.

O gerenciamento da qualidade é outro aspecto importantíssimo nos dias atuais, pois, se o produto ou serviço fornecido é escolhido pelos clientes com base na qualidade, é preciso mantê-la, atuando nos vários níveis da administração, nas várias etapas do processo de elaboração do produto ou serviço, bem como aperfeiçoando-os mediante correção de rumos quando necessário, o que é feito por meio de constante avaliação.

Penso que tanto a abordagem contingencial quanto a gestão da qualidade levam em conta as oportunidades e ameaças, tanto no aspecto da movimentação da concorrência, quanto na evolução ou mudança das preferências dos clientes e, bem assim, da modernização tecnológica e das influências ambientais.


Assim como o mencionado plano de contingência, empresas focadas têm seus mecanismos de gerenciamento de crises, justamente para manter a qualidade, pela não interrupção de suas atividades diante de uma crise de qualquer natureza que possa afetá-las.

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

POLÍCIA E ASSISTÊNCIA SOCIAL


Às vezes se discute sobre a legitimidade e mesmo vocação imposta às agências policiais para intervir em situações de competência institucional de outros órgãos, encaminhando casos de saúde pública, de exclusões e abandonos, situações de risco envolvendo crianças e adolescentes, conflitos domésticos e outras situações de violência em que outros órgãos não tenham. Em inúmeros desses casos os órgãos policiais são os primeiros a serem acionados para resolver o conflito.
Embora não seja propriamente atribuição dos órgãos de segurança pública, várias dessas atividades, apelidadas no dia-a-dia de “assistência social”, acabam sendo prestadas pela polícia militar, bombeiros militares e polícia civil. Normalmente quando envolvem socorro, acionam os bombeiros. Quando envolvem conflitos, buscam a polícia militar. Conforme a proximidade ou oportunidade de contatarem, chamam a polícia civil.
Enfim, isso justifica ser a polícia considerada a ultima ratio, tanto do ponto de vista dos governantes, no sentido de controlar o crime e as massas, quanto do ponto de vista dos cidadãos, ao se sentirem abandonados pelos órgãos públicos.
Isso talvez ocorra justamente porque as polícias são “aqueles que podem” subjugar alguém que esteja fazendo algo ilícito ou reprovável, no dizer de Egon Bittner (“Aspectos do trabalho policial”, Edusp).
Consta que pelo menos um quarto dos atendimentos da PM são desse tipo. Creio que em alguns lugares o índice seja ainda mais alto.
Novamente considerando não ser atribuição específica das polícias, acredito que esse tipo de atendimento deva ser mantido, por duas razões principais: 1) geralmente a polícia é acionada quando o cidadão já tentou outras formas de composição ou resolução de conflitos, seja contatando o infrator ou reclamando junto ao órgão ou agência estatal responsável pelo serviço; 2) em certa medida esse tipo de atendimento tem muita afinidade com a moderna filosofia do policiamento comunitário, isto é, envolvimento da comunidade para se autoproteger, com a ajuda da polícia.
Disso infiro que se a polícia não comparece a um incidente para resolver um conflito, o sentimento que perpassa na população é que a polícia não cumpriu seu dever e, mais, que a comunidade está abandonada.
Noutro passo, se a polícia atuar resolvendo os pequenos conflitos que “não são de sua atribuição”, em tese, estará contribuindo para a pacificação social e aumentando a sensação de segurança, pelo reconhecimento da dignidade das pessoas, fomentando, assim, o sentimento de pertencimento à comunidade e, com isso, agregando à comunidade o próprio policial, a própria polícia.
Um exemplo comum da necessidade de atuação da polícia e da sensação de abandono dos cidadãos são os inúmeros casos de barulho fora de hora. Ora é uma festa que vara a madrugada, no ritmo “tunts, tunts” (ou, o que é pior, os ritmos de bailes fanque, que do belo funk americano dos anos 80 nada têm), ora são uns bocós que gastam o que não têm para botar um som no carro que obriga toda a vizinhança a ouvir pancadão, rap ou “sertanejo universitário”... Bem, mas tirante os gostos individuais, ninguém merece ouvir da polícia que ela tem coisa mais grave a cuidar, que o incomodado deve ir à delegacia às quatro da matina registrar ocorrência, ou, ainda, o absurdo de só ser atendido se souber o nome do proprietário. 

Não é difícil entender por que o narcotráfico dominou as favelas do Rio, simplesmente por falta da presença do Estado, desde o governo do revolucionário caudilho Brizola, que proibiu a polícia de subir os morros, a fim de preservar seus dignos eleitores cativos. Hoje, todos sabem o resultado.

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

LIDERANÇA E INTERAÇÃO

   Creio que seja possível a mudança no estilo de liderança. Penso que há líderes natos que têm determinado estilo e sequer percebem isso. Pode ser que uma série de contingências, contextos ou variáveis façam com que o estilo desse líder se amolde, quase por acaso, à condição dos liderados ou a outros fatores que facilitem a liderança.
   Mesmo esse líder nato, porém, pode “educar” sua liderança, adaptando-a às situações adequadamente. Nesse caso tal adaptação só pode-se dar mediante interação com os liderados. Aliás, a percepção da liderança de alguém é própria dos liderados. Então, se o líder não busca essa interação, jamais saberá qual seu estilo de liderança, sequer se é considerado líder e muito menos saberá adaptar-se para que o estilo de liderança varie na conformidade da necessidade do grupo, imposta pelas 
   Já o líder que “se construiu” tem esta percepção muito clara, de forma que tem como padrão de conduta a interação, senão não se teria tornado líder. Para ele, porém, a adaptação é mais fácil. Ocorre que o líder nato não “adota” determinado estilo. Ele “possui” esse estilo em decorrência de seu caráter, sua personalidade, donde a dificuldade em exercer outros papéis. A liderança aprendida pressupõe, portanto, que o líder é uma pessoal flexível e adaptável às diferentes situações. Isso não significa, contudo, que o líder nato não possa aperfeiçoar sua liderança e tornar-se um líder completo. Se ele tem essa consciência e decide aperfeiçoar a liderança, pode ocorrer de obter sucesso mais facilmente que um esforçado gerente que não tenha os atributos do líder.
   Talvez o estilo de liderança democrática possa se aplicar a todas as situações. A bidimensional (autocrática e democrática) é um tipo de liderança bastante flexível, ora tendendo para um ora para outro estilo. Desta forma, não pode ser aplicada a todas as situações, a não ser com a adaptação necessária a cada uma. Pode ser que uma liderança “interativa” seja a ideal, aquela em que o líder se adaptaria à situação, sempre, interagindo com os liderados, como o meio ambiente, com a situação etc.
   No tocante às lideranças autocrática e liberal, simplesmente, cada uma está no extremo dos enfoques nos processos e nas pessoas, ou, noutra dimensão, no controle rígido ou na falta total de controle.
   Então, vejo que a liderança democrática é a que mais se amolda à aspiração das pessoas, de serem tratadas com respeito e consideração. É claro que uma liderança essencialmente democrática, sem pitadas de autoritarismo ou liberalismo pode trazer algumas consequências indesejáveis ao líder. Isto é, a perda do controle quando deveria ter sido mais rígido e não foi, ou o inverso, o comprometimento da influência que exerce no grupo quando deveria ter sido mais liberal.
   A própria característica da liderança democrática, de ouvir e estimular a participação dos liderados, dá uma noção de que esse estilo de liderança implica um líder mais transigente e, portanto, mais apto a decidir com acerto nas mais variadas situações.

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

COMO ESTUDAR

Quando adolescente (faz tempo!) encontrei num sebo um ótimo livro: "Como estudar", tradução de um autor americano. Depois o perdi.
No mercado há livros bons a respeito, alguns deles de um juiz carioca, William Douglas, que ensina a ser aprovado em concursos, o que ele já conseguiu em vários.
Pra quem continua tendo dificuldade de gerir o tempo, pode ser uma boa dica para "otimizar" (ô palavrinha feia) o tempo disponível.
Alguns exemplos que uso na leitura:
1) Destacar trechos do livro ou texto, sublinhando, circulando, desenhando setas (foguetes, como dizem os jornalistas), com lapiseira macia, para não borrar tudo. Tem gente que ilumina com aquelas canetinhas coloridas e fica parecendo bandeirinha de festa junina.
2) Se for um texto descartável, destacar com caneta, mesmo, para ficar bem visível.
3) Desenhar chaves } ao lado de trechos maiores, anotando alguma observação, se for o caso.
4) Fazer referência nessas chaves a outros trechos, mesmo de outros textos, ou explicar o trecho com o conhecimento adquirido.
5) Anotar erros encontrados, mesmo de impressão, o que treina a concentração e o senso crítico.
6) Destacar os termos e expressões desconhecidos ou em língua estrangeira e buscar conhecer o significado.
A estratégia para o estudo depende de o curso ser presencial ou à distância e mesmo se se trata de autodidatismo. As diferenças existentes entre os cursos presenciais e o à distância tanto podem jogar a favor como contra. Enquanto no presencial temos o compromisso com a frequência, o que nos força a uma disciplina de acompanhamento, no curso à distância a disciplina de gestão do tempo é essencial.
Um segredo para aproveitar o tempo é andar com os livros ou o material didático para onde for, mediante impressão do conteúdo das aulas e textos complementares. Assim, numa fila de banco, no carro enquanto espera as crianças ou a patroa, no shopping, enquanto ela usa nosso cartão de crédito (piada velha!), enfim, em todos os momentos possíveis de espera, é possível ler a matéria.
Mas, como "temos nosso próprio tempo", cada um tem seu ritmo, em que interferem compromissos profissionais, pessoais, visita de um parente, excesso de demanda no trabalho e outras intercorrências. Nem sempre é possível, porém, não deixar para amanhã o que se pode fazer hoje. Entretanto, se há tempo disponível a regra é extremamente válida. Deixar para a última hora pode gerar aquele caos quando há qualquer apagão, na internet, no trânsito ou literalmente, quando falta luz.
Algumas pessoas tendem a ser mais produtivas em horários específicos. Mas essa questão de horário de produtividade depende de uma série de fatores, a meu ver. Um deles é o hábito. Se o sujeito gosta de um happy hour ou bater uma bolinha toda tarde, seu organismo vai se condicionar a se preparar para isso e aí, adeus concentração.
Tem gente que trabalha melhor noite adentro. Com certeza o trabalho ou estudo à noite ou de madrugada traz melhores condições de concentração, pelo silêncio, ausência de perturbação de colegas ou clientes, ou interferência de familiares e do chefe.
Gosto de trabalhar ou estudar ouvindo música (blues ou rock progressivo, de preferência) e esse costume me permite concentrar mesmo havendo barulho. Talvez por isso, não tenho um horário certo para melhor rendimento. Acho que depende de outras condições ambientais, do estado do próprio organismo, de certa paz interior advinda de uma boa harmonia familiar e profissional e, talvez o mais determinante, da pressão decorrente do volume de trabalho ou estudo, da premência do tempo para terminá-lo ou de um chefe que não tem noção do tempo certo para cada coisa.
Lembro, a propósito, duas frases:
“O pessimista queixa-se do vento, o otimista espera que ele mude e o realista ajusta as velas”. (Willian George Ward)

“Tente de novo, fracasse de novo, fracasse melhor”. (Samuel Beckett)

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

RESENHA: O GIGOLÔ DAS PALAVRAS

          O texto de Luís Fernando Veríssimo, O gigolô das palavras, extraído da 8ª edição da L&PM (Porto Alegre, 1982), é um aperitivo do humor refinado do escritor gaúcho.
          Veríssimo, nascido em 1936 em Porto Alegre, é filho do também escritor e diplomata Érico Veríssimo. Tem dezenas de obras publicadas, dentre as quais a mais conhecida é a da personagem “analista de Bagé”. Tendo vivido nos Estados Unidos, possui uma intimidade com a língua portuguesa que lhe permite atuar em várias frentes da ficção com a verve humorística que lhe caracteriza. Desta forma, escreveu para a televisão (A comédia da vida privada), quadrinhos (As cobras), uma série sobre o detetive Ed Mort, além de textos de culinária (a série Traçando...), dentre outros. Saxofonista nas horas vagas, mantém regularmente colunas em vários jornais do país.
          No texto, em que conta como atendeu a estudantes que queriam sua opinião sobre a importância da gramática, Veríssimo faz um paralelo com a vida de um gigolô, considerando suas palavras como prostitutas. Defendendo um conhecimento básico de gramática, que o autor chama de esqueleto da língua, metaforicamente diz maltratá-las, viver abusando delas, pois, se um escritor as respeitasse, com a deferência de um relacionamento afetivo, se tornaria refém das regras gramaticais.
          Em sua obra Veríssimo retrata o cotidiano e, mais que isso, o linguajar popular, sem descurar de dar pinceladas do rico regionalismo sul-riograndense. Mas o que mais lhe é típico é o fino humor que transparece em toda a produção. No texto em análise, Veríssimo traça um paralelo entre o modo violento, negligente e ao mesmo tempo dominador com que o cafetão trata seu “plantel”, isto é, as prostitutas, com a forma com que ele próprio procura dominar as palavras, deixando as regras gramaticais complexas em segundo plano.

          Ao que tudo indica, é seu trunfo para não ser incomodado pelos puristas. Para utilizar uma metáfora futebolística, tão ao gosto do brasileiro, é como se fosse o craque, que não trata a bola por “Excelência” e, portanto, faz a alegria da torcida. Para a torcida de leitores Veríssimo bate um bolão!

terça-feira, 1 de setembro de 2015

FALARES

A variação linguística é constituída pelos diversos falares de um grupo que fale a mesma língua. Se a diferença na forma de falar é muito acentuada, tem-se o dialeto. Assim, as formas de falar do brasileiro, do português e do angolano seriam variações linguísticas mais pronunciadas, pois, às vezes um tem certa dificuldade de compreender o outro. Já o falar de Guiné Bissau, por exemplo, é quase um dialeto, pois a variação não se dá só no falar, mas no próprio léxico, muito influenciado pelas línguas nativas.
As variações linguísticas mais comuns são as de natureza espacial ou geográfica, situacional e cronológica. Na geográfica as mais sutis constituem o sotaque, em que também há diferença de vocabulário e pronúncia, mas a estrutura da língua é mantida. 
Assim, no Brasil, temos sotaques mais comuns o nordestino, o carioca e o sulista, especialmente o gaúcho. Há aproximação de um falar amazônico com o nordestino, com ligeiras variações que só os estudiosos diferenciam com facilidade, como o jeito baiano ou maranhense de falar, este, acentuando o dígrafo "nh". No sotaque sulista, há o jeito paulista-mineiro e em certa medida, goiano e matogrossense de falar. O jeito paranaense, parecido com o paulista, tem forte influência da imigração européia, especialmente no sudoeste e em Curitiba. O jeito catarinense aglutina certo chiado parecido com o carioca, oriundo dos açoreanos, mas com certa influência do imigrante, o que lhe dá uma característica incomum, com muito uso da segunda pessoa do singular. Esse uso também é mais comum entre os nordestinos que entre outros brasileiros. Já o gaúcho, tal qual o nordestino, é inconfundível, se comparado ao paulista-mineiro ou o carioca. 
Diria que o falar paulista puxa o erre como o inglês, enquanto o carioca e o nordestino, como o francês. O jeito carioca, de certa forma, é o falar mais disseminado, ou mais facilmente assimilado, o que deve ter origem tanto na prevalência da cultura da corte, com a influência do português de Portugal, quanto na própria difusão aos estrangeiros de ser esse o jeito de falar brasileiro. Parece que o falar gaúcho teve forte influência dos povos platinos, sendo comum no falar coloquial o uso da segunda pessoa (tu) com a conjugação verbal na terceira (tu vai).
A variação linguística situacional, também chamada de registro linguístico, leva em conta o contexto, a forma de expressão conforme o interlocutor seja uma criança, um chefe, um serviçal, se esteja num evento científico ou numa roda de amigos. Uma forma de variação situacional é aquela oriunda das gírias e jargões. 
A gíria é formada por termos e expressões comuns em cada grupo geracional, por influência dos chamados guetos de fala inculta, que é a forma coloquial de falar mais distante da norma culta, ou padrão da comunicação escrita. Assim, a cada geração surgem gírias novas, que se tornam obsoletas e são substituídas pelas gírias da próxima geração.
O jargão é uma forma de falar que usa termos e expressões próprias de determinado grupo que mantém afinidade por uma atividade comum, como o jargão científico, o jurídico, o policial, o médico etc.
Outra variação linguística, a cronológica, leva em conta as diferenças geracionais, de modo que, sendo a evolução da língua cada vez mais dinâmica, tal implica diferentes formas de falar entre jovens, adultos e idosos, por exemplo.