MODELOS DE GRADIENTE DE USO PROGRESSIVO DA FORÇA
Voltamos a este tema porque é extremamente relevante, sob
o ponto de vista de que as forças policiais estão, cada vez mais, preocupadas
em atuar de forma menos letal, respeitando o direito à vida e à integridade
física das pessoas.
Não obstante essa tendência,
notamos que ainda é muito assimétrica a situação das diversas polícias no país,
seja com respeito aos recursos humanos e materiais, seja no tocante à qualidade
da seleção, da formação e do treinamento, seja, ainda, em relação ao grau de
comprometimento com a excelência em todos os aspectos, essa última variável
estreitamente ligada á cultura organizacional de cada corporação e da cultura
policial como um todo, além da subcultura específica existente em
cada órgão. Não podemos esquecer, também, as características locais, no
enfrentamento da criminalidade tradicional, quadrilhas modernas ou
narcotraficantes, por exemplo. A par disso tudo, as distorções salariais,
grande bode expiatório para todas as mazelas das polícias.
No caso
das polícias do Distrito Federal, tanto a civil como a militar, que conheço
mais de perto, têm um padrão de atuação técnica e de conduta ética acima da
média em termos de Brasil. Há, naturalmente, aquele percentual histórico de
maus profissionais existentes em qualquer profissão e, tal como o crime nunca
deixará de existir, os maus profissionais também não. É preciso atingir um
patamar aceitável de indivíduos considerados desviantes, o que não se confunde
em admitir uma “banda podre” na polícia. A existência de mecanismos rígidos de
responsabilização e expurgo desses indivíduos, que sempre serão substituídos
por outros, dados os novos ingressos, passa pelo fortalecimento das
corregedorias e métodos contínuos de educação preventiva, como o estudo da
ética policial, dos direitos humanos e matérias afins, não só nas academias,
mas no cotidiano dos policiais.
Os modelos mais comuns
de uso progressivo da força são: FLETC (Federal Law Enforcement Training Centers), Gillespie, Remsberg, Canadense, Nashville,
Phoenix e Remsberg modificado.
Dentre os vários modelos observa-se
que quase todos utilizam padrões gráficos para definir o gradiente. Tais
padrões têm a intenção de impressionar os sentidos para melhor fixação, de modo
a facilitar a apreensão e, consequentemente, a correta aplicação do gradiente.
Assim, os modelos impressionam
a visão, ao utilizar cores para cada nível, além de formato que tendem a
associar a gradação entre o nível de uso da força com o nível de risco, como degraus,
colunas, setores circulares, figuras etc.
O uso de cores se coaduna com o
sistema a ser adotado no plano de policiamento e com o plano de contingência,
em que se adotarão níveis de alerta utilizando padrões cromáticos
internacionalmente conhecidos. Pode-se utilizar, ainda, símbolos e
desenhos, para facilitar a apreensão.
Entretanto, essas características só
impressionam um sentido: a visão. Outro sentido que pode ser atingido é a
audição. É o que ocorre na utilização da arma de incapacitação neuromuscular,
chamada taser (nome dicionarizado da marca Taser; pronuncia-se têiser),
quando se deve dizer em voz alta: “taser, taser”, para alertar os circunstantes
e os próprios policiais, visando a evitar que a taser seja confundida com arma
de fogo, ensejando a utilização indevida desta. Outra forma de impressionar a
audição é estabelecer qualquer indicativo sonoro de situação emergencial, a que
poderia estar vinculada determinada fase do gradiente. Naturalmente o sentido
da audição é utilizado no momento em que uma equipe receba ordens ou
autorização para atuar em determinado nível de força segundo as circunstâncias.
Essa comunicação pode-se dar presencialmente ou por telefone, rádio ou, ainda,
pelo sistema de alto-falantes, situação em que as próprias pessoas alvo do uso
da força ficariam sabendo qual seria ela, como forma de dissuasão da conduta
agressiva.
Quando dirigi o
Departamento de Polícia Legislativa (Depol) da Câmara dos Deputados, em
2007/2008, criei um modelo de uso da força voltado para as especificidades de
uma casa legislativa, que denomei Polegis. O modelo consistiu em adaptação dos
principais mencionados acima.
Considerei sete
situações, representadas por sete cores, uma delas considerando a absoluta
normalidade, no início do espectro (branco, significando ainda situação
totalmente neutra ou não aplicável ao caso) e, ao final do espectro a situação
representada pela cor preta, significando envolvimento total da força, não se
traduzindo mais por grau de risco, mas evento indesejável (morte) já ocorrido e
necessitando de controle para debelar o sinistro, retomar as atividades e
recuperar-se dos seus efeitos. Os cinco níveis intermediários são de alerta a
dissuasão e ação – esta em gradiente de força progressiva –, variando entre
azul (presença), verde (verbalização), amarelo (mãos livres), laranja
(instrumentos de impacto) e vermelho (arma de fogo). Essa sequência significa
uma gradação de risco cada vez maior, tanto de ameaça quanto de resposta da
força policial.
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