USO PROGRESSIVO DA FORÇA
Interessante o artigo intitulado “Processos de treinamento no uso da força para policiais militares da Região Sudeste: uma análise preliminar”, de autoria de Paulo Aughusto Souza Teixeira, publicado na Revista Brasileira de Segurança Pública (http://revista.forumseguranca.org.br/index.php/rbsp/article/view/37).
O autor é oficial superior da Polícia
Militar do Rio de Janeiro (PMERJ) e coordenava à época da publicação (março de
2009) os Conselhos Comunitários de Segurança do Rio de Janeiro.
Estimulado pelo seminário “A polícia
que queremos! Compartilhando a visão e construindo o futuro!, realizado em
2006, o autor resolveu abordar o tema, realizando pesquisa em 2008, como
resultado do Programa de Bolsas Paulo de Mesquita Neto, do Fórum Brasileiro de
Segurança Pública.
A pesquisa foi direcionada aos
policiais militares dos Estados da Região Sudeste (Espírito Santo, Minas
Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo), consistindo de pesquisa bibliográfica e
trabalho de campo realizado por meio de entrevistas, tarefa que, segundo o
autor, apresentou facilidades e dificuldades que buscou equilibrar, na condição
de oficial da polícia militar.
Abordando
o conceito de mandato, de Muniz e Proença Júnior, como sendo o conjunto formal
de atribuições das organizações de manutenção da ordem, o autor lembra que o
pensador italiano Norberto Bobbio adverte a prevalência da exclusividade do uso
da força em determinado território apenas sobre o direito desse uso. Essa
passagem nos faz recordar a triste realidade dos morros sem Estado no Rio de
Janeiro, que, às vezes, precisam conviver com o Estado paralelo das milícias.
Ressalta
o autor, ao longo do texto, as iniciativas das polícias dos Estados da Região
Sudeste no sentido de enfocar, na formação e treinamento dos policiais
militares – infelizmente mais direcionados aos de patentes superiores – a
valorização e preservação da vida, transmudando a clássica visão do uso da
força para a proteção às pessoas. Esse enfoque teve como inspiração os
trabalhos de Jaqueline Muniz e do pesquisador estadunidense Egon Bittner, autor
de “Aspectos do trabalho policial”, no qual constrói uma “teoria da polícia”.
O
autor aponta alguns fatores condicionantes do uso da força, sendo eles de
caráter externo (políticas e legais) ou interno (estratégicas, táticas e
logísticas). Dentre as primeiras destaca os pronunciamentos jurisprudenciais,
como a questão do uso de algemas, disciplinada por Súmula do Supremo Tribunal
Federal, bem como as proposições legislativas pertinentes à atuação policial,
como a referente à alteração da lei de abuso de autoridade.
No aspecto estratégico vislumbra a
alteração do modelo histórico de atuação das polícias, oriundo de sua
vinculação à força terrestre como força auxiliar, o que é denotado pela
tendência de se adotar uma filosofia de polícia comunitária no agir policial. A
condicionante tática (que no texto reporta como técnica) estaria a normatização
infralegal que dê factibilidade ao “estado das práticas”, visto como a situação
real, aquém do “estado da arte”, considerado a melhor prática, buscando o ideal.
As condicionantes logísticas são as voltadas para os recursos materiais como
meios de comunicação, viaturas, armamento e equipamento.
O autor deu relevância ao Método
Giraldi de tiro, desenvolvido pelo Coronel Nilson Giraldi, da reserva da
Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMESP), o qual busca minimizar os
efeitos da atuação repressiva policial, de modo a controlar o número de mortes
não-naturais oriundas da ação tradicional.
Apontou o autor alguns problemas
observados, como a diferença de treinamento entre os policiais que residem
próximo aos centros de treinamento em relação aos lotados no interior do
Estado, embora o esforço dos Estados em prover treinamento continuado. Outra
dificuldade seria a falta de mecanismos seguros de aplicação de técnicas de
mediação de conflitos, algo cotidiano na atuação do policial de rua. Mais uma,
seriam os filtros por que passa todo processo de inovação visando à conduta
dos policiais, que são a nível institucional, do corpo docente e dos alunos, na
recepção do ensinamento.
Uma
característica das forças policiais constatada pelo autor foi a existência de
forças especiais, privilegiadas em relação às demais em termos de treinamento e
recursos logísticos, as quais são voltadas para ações menos comuns envolvendo
rebeliões em estabelecimentos penais e crimes com reféns.
O
autor destacou por fim, a atuação da Secretaria Nacional de Segurança Pública
(Senasp), por meio do fortalecimento do Renaesp (Rede Nacional de Altos Estudos
em Segurança Pública) e cursos à distância, tendo como parceiro o Comitê
Internacional da Cruz Vermelha, visando transversalizar os conteúdos dos
direitos humanos nos processos de formação e treinamento dos policiais
militares.
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