O documentário é muito bem feito. A repetição da
característica dos seres humanos, não presentes nos animais, mas presentes em
“todos” os humanos, que se entrelaçam na narração, funciona como uma espécie de
mantra, para consolidar a mensagem. Muito inteligente.
A mensagem, por sua vez, se mistura como uma denúncia, um
desabafo e um apelo. Ah, e uma certa ironia...
A denúncia se caracteriza pela exposição do nível de
humilhação e abandono a que foi relegado aquele grupo humano. O desabafo está
inserido até na participação dos miseráveis, ao mostrarem que possuem o polegar
opositor. O apelo está na própria mensagem, para que nós e outras pessoas que a
vejam, possam contribuir o pouco que seja para que esse estado de coisas não se
perpetue.
Ali não se mostra o controle social, mas o total
“descontrole social”. As pessoas não estão ali porque lhes foi imposto viver no
e do lixo. É a falta de políticas públicas que as levaram a se submeter àquilo.
É o mesmo que ocorre nas ocupações dos morros e lixões que
fazem nossa tragédia diária. Alguns poucos votos são muito importantes para que
se evitem invasões e favelas, que se transformam em assentamentos ou conjuntos
habitacionais populares em cima do chorume.
Não acredito que seja em nome do controle social que essas
populações são abandonadas. Ninguém é tão perverso: por outro ângulo é ainda
pior, ao não se dar conta disso.
O que os órgãos de controle têm com isso? O
Judiciário só atua se provocado, nessas circunstâncias. Enquanto isso, a
polícia atua solidariamente, procurando levar segurança e proteção a essas
comunidades. E, contraditoriamente, às vezes, precisa ir ao mesmo local
garantir uma desocupação determinada judicialmente.
E assim como aquele operário na Bahia, que se recusou,
chorando, a derrubar uma casa humilde com seu trator de trabalhador da
prefeitura, o policial fica entre a cruz e a espada, equilibrando-se sobre o
que os americanos chamam de a tênue linha azul (blue thin line).
Isto é, se sair para a direita é abuso de autoridade; se sair para a esquerda é
prevaricação.
Uma lástima.
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